Morre Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai, aos 89 anos

O ex-presidente do Uruguai José “Pepe” Mujica faleceu nesta terça-feira (13), aos 89 anos. A informação foi confirmada pelo atual presidente uruguaio, Yamandú Orsi. A causa da morte ainda não foi divulgada oficialmente.

Mujica vinha enfrentando sérios problemas de saúde. Em abril de 2024, revelou publicamente ter sido diagnosticado com um tumor no esôfago. Além disso, sofria de uma doença autoimune que comprometia o funcionamento dos rins.

Nascido em Montevidéu, em 1935, Mujica passou a vida na capital uruguaia e teve uma trajetória política marcada por coerência, humildade e resistência. Iniciou a militância no Partido Nacional, onde chegou a ser secretário-geral da Juventude. Mais tarde, fundou o Movimento de Libertação Nacional – Tupamaros, principal grupo guerrilheiro do país, combatido com violência durante a ditadura militar.

Preso por mais de 13 anos, sofreu tortura e isolamento, e chegou a relatar que, para sobreviver, precisou beber a própria urina. Após a redemocratização, ingressou na política institucional, foi senador e, em 2010, eleito presidente do Uruguai, cargo que ocupou até 2015.

Um líder fora dos padrões

Durante sua presidência, Mujica ficou conhecido internacionalmente como “o presidente mais humilde do mundo”. Recusava regalias, doava grande parte do salário e vivia com a esposa, a também senadora Lucía Topolansky, em uma chácara modesta nos arredores de Montevidéu, onde cultivava flores e dirigia um famoso Fusca azul claro — que recusou vender, mesmo diante de ofertas milionárias.

Símbolo da esquerda latino-americana, Mujica foi uma voz firme em defesa da democracia, justiça social e direitos humanos. Ao mesmo tempo, mantinha um estilo direto e filosófico, que conquistava tanto admiradores quanto críticos.

“Não sou pobre, sou sóbrio. Pobre é quem precisa de muito para viver”, dizia, em uma de suas frases mais marcantes.

Legado

Pepe Mujica deixa um legado singular na política mundial: o de um líder antissistema que chegou ao poder sem abrir mão de seus princípios, e que, mesmo após deixar o governo, seguiu influente nas causas sociais e ambientais.

Sua morte encerra um dos capítulos mais notáveis da história recente da América Latina. Mujica será lembrado como ex-guerrilheiro, prisioneiro político, estadista e, sobretudo, símbolo de integridade.