Conclave que elegerá sucessor de Francisco será o mais global da história da Igreja Católica

Com a morte do Papa Francisco nesta segunda-feira (21), o Vaticano já se prepara para um dos momentos mais simbólicos e decisivos da Igreja Católica: a escolha de seu novo líder. O próximo conclave será histórico não apenas pelo contexto em que ocorre, mas também por sua composição inédita, a mais diversa em mais de dois mil anos da instituição.
Nomeado por Francisco ao longo de seus quase 12 anos de pontificado, o atual Colégio de Cardeais reflete sua visão de uma Igreja mais inclusiva e representativa. Dos 135 cardeais com direito a voto, 108 foram indicados por ele. São religiosos vindos de regiões historicamente marginalizadas ou pouco representadas na cúpula eclesiástica, como o Sudão do Sul, Haiti, Timor Leste e Papua Nova Guiné.
A composição é uma tentativa clara de Francisco de proteger seu legado progressista e universalista. A Europa, ainda majoritária, conta com 53 cardeais votantes, mas agora divide espaço com outras regiões do globo: a Ásia terá 23 representantes; a África, 18; a América do Sul, 17; e a América do Norte, 16. O Colégio Eleitoral, pela primeira vez, reúne cardeais de 71 países diferentes.
Disputa interna e desafios modernos
Apesar da representatividade, o processo será marcado por tensões significativas. Com Francisco já debilitado nos últimos meses de vida, ele havia deixado orientações claras para evitar um vácuo de poder. No entanto, forças conservadoras dentro da Cúria Romana estão prontas para tentar reverter avanços promovidos pelo pontífice.
Durante seu papado, Francisco promoveu gestos que abriram espaço para debates antes considerados tabu, como a maior inclusão de divorciados, homossexuais e mulheres na vida da Igreja. Essas ações, embora aclamadas por muitos fiéis, provocaram resistência de alas ultraconservadoras, que agora enxergam no conclave uma oportunidade de restaurar liturgias mais tradicionais e endurecer posturas doutrinárias.
Outro fator inédito será o papel das redes sociais e da disseminação de desinformação. Grupos ideológicos e setores polarizados podem tentar influenciar a opinião pública e, indiretamente, pressionar os eleitores do conclave. A própria campanha velada de candidatos ao papado deverá ocorrer de maneira menos discreta do que em tempos passados.
Legado e futuro
Francisco entra para a história como o primeiro papa latino-americano, o primeiro jesuíta a ocupar o cargo e o primeiro pontífice da era moderna a suceder um papa renunciante. Sua marca foi a de uma liderança centrada nos pobres, na periferia do mundo e no diálogo com outras religiões e culturas.
O próximo conclave será realizado na Capela Sistina, sob o rigoroso sigilo tradicional, mas com o peso de uma Igreja em transformação. O novo papa terá a missão de liderar uma instituição milenar diante de desafios contemporâneos complexos e decidir se dará continuidade à linha reformista de Francisco ou se promoverá um retorno a valores mais conservadores.
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