Angela Ro Ro morre aos 75 anos no Rio de Janeiro
A música brasileira perdeu, nesta segunda-feira (8), uma de suas vozes mais marcantes e singulares. Morreu no Rio de Janeiro, aos 75 anos, a cantora e compositora Angela Ro Ro, reconhecida pela voz rouca, pelas letras confessionais e pela irreverência que marcaram sua trajetória.
De acordo com informações divulgadas pela revista Veja, a artista havia passado recentemente por uma cirurgia no Hospital Silvestre, na capital carioca. Após apresentar quadro de infecção pulmonar e problemas renais, foi submetida a sessões de hemodiálise e a uma traqueostomia para auxiliar na respiração. Apesar dos cuidados, sofreu uma hipotensão grave e uma parada cardíaca. Os médicos tentaram reanimá-la por cerca de 15 minutos, mas ela não resistiu.
Trajetória musical
Nascida Angela Maria Diniz Gonçalves, no Rio de Janeiro, em 5 de dezembro de 1949, a artista adotou o nome artístico ainda na juventude, inspirado em um apelido dado por meninos de seu bairro. Seu contato com a música começou cedo: aos cinco anos, iniciou os estudos de piano clássico, e, aos seis, já arriscava composições no acordeão.
Angela Ro Ro despontou em 1976, ao participar do festival de rock “Som, Sol e Surf”, organizado por Nelson Motta em Saquarema (RJ). Três anos depois, lançou seu disco de estreia, homônimo, que incluía sucessos como “Amor, Meu Grande Amor” e “Gota de Sangue”, esta última também eternizada na voz de Maria Bethânia.
Ao longo da carreira, gravou mais de dez álbuns, entre trabalhos de estúdio e registros ao vivo, e dividiu parcerias com nomes consagrados da música popular brasileira, como Ney Matogrosso, Maria Bethânia e Caetano Veloso.
Pioneirismo e polêmicas
Além da força musical, Angela Ro Ro destacou-se por ser uma das primeiras artistas brasileiras a assumir publicamente sua homossexualidade, ainda na década de 1980, gesto considerado pioneiro em um cenário artístico e social mais conservador.
Sua vida pessoal, contudo, também esteve cercada de turbulências. Na mesma década, viveu um relacionamento com a cantora Zizi Possi, que culminou em acusações de agressão negadas por Angela e grande exposição midiática. O episódio acabou inspirando o álbum “Escândalo”, lançado em 1981.
Nos últimos anos, a artista enfrentou dificuldades financeiras e chegou a recorrer às redes sociais para pedir apoio de fãs. Ainda assim, nunca deixou de ser reverenciada como uma figura autêntica, cuja obra traduzia intensidade, vulnerabilidade e coragem.
Legado
Com mais de quatro décadas de trajetória, Angela Ro Ro deixa um legado de inovação e resistência, seja pela música marcada por sentimentos profundos, seja por sua postura irreverente diante da vida. Seu nome permanece entre os grandes ícones da Música Popular Brasileira (MPB), lembrado não apenas pelas canções, mas pelo modo como quebrou barreiras e inspirou gerações.





